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Língua Portuguesa no Ensino Médio: a vez do protagonismo dos alunos

Ana Carolina Carvalho
Formadora de professores, jornalista especialista em Jornalismo Social e em O livro para a infância.

Marianka Santa Barbara
Mestre em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Formadora de professores e autora de materiais didáticos.

Na etapa final da Educação Básica, professores recorrem às novas linguagens da internet para trabalhar leitura, oralidade, escrita, análise linguística e semiótica e preparar os alunos para o mercado de trabalho.

 

Era comecinho de 2017 quando a reforma do Ensino Médio foi aprovada. Muito já tinha se falado sobre as novas propostas para a etapa, a medida provisória que originou a discussão e ganhou mais de 500 emendas de deputados e senadores, os estudantes que protestaram contra muitos pontos previstos na alteração e as discussões de especialistas que debatiam o que seria melhor para essa última fase da Educação Básica.
Longe da luz dessas discussões, o Ensino Médio atualmente tem um novo contorno: apenas Língua Portuguesa e Matemática são matérias obrigatórias nos três anos e as outras disciplinas podem ser distribuídas ao longo da etapa, de acordo com o desejo do aluno.
Alicerçada nesse desenho, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para o Ensino Médio foi aprovada no fim do ano passado com o propósito de auxiliar os jovens a entrar no mercado de trabalho, já que eles poderão escolher as áreas de conhecimento que desejam estudar mais, incluindo a opção por uma formação técnica e profissional. E, assim como estabeleceu a lei da reforma do Ensino Médio, na Base, o estudo da Língua Portuguesa também é obrigatório.
Segundo o documento, uma moçada plural e cada vez mais protagonista de suas escolhas busca uma escola que acolha sua diversidade – a mesma que lhe abrirá novos horizontes para uma profissão (fator fundamental para a nova configuração do Ensino Médio). E é esse conceito que permeia a estruturação do componente da Língua Portuguesa.

Entre os objetivos do ensino da disciplina estão ampliar a autonomia e a autoria dos alunos na prática de diferentes linguagens, estimular a sua participação em manifestações culturais diversas, orientá-los na identificação e na construção de críticas a respeito dos usos de linguagem e empregar as diversas mídias com criatividade

Para isso, os campos de atuação, que até os anos finais do Ensino Fundamental eram divididos pelas séries, aqui aparecem diluídos por todo o período com o intuito de possibilitar aos alunos uma maior experimentação como os diversos tipos de linguagem, principalmente o intercâmbio entre o impresso e o digital e o clássico e o contemporâneo.
O professor habituado ao ensino tradicional e conservador da língua deve se acostumar com novos termos e práticas.

Tutoriais em vídeo, posts, tweets, memes, gifts, reportagens midiáticas, relatos multimidiáticos, playlists comentadas, vídeos-minuto aparecem como novos gêneros de linguagem que não podem ser mais ignorados na sala de aula, mas devem ser usados como recursos para o aprendizado de regras gramaticais, compreensão e interpretação de texto e discussões orais de diferentes pontos de vista.

Os verbos curtir, compartilhar, comentar, seguir, colecionar, colaborar, redistribuir e até “tuitar” também passam a ser conjugados nas aulas com objetivo de trabalhar uma produção de conteúdo rica, criativa e crítica.
Assim, a BNCC para o Ensino Médio prioriza cinco campos de atuação – da vida pessoal, das práticas de estudo e pesquisa, jornalístico-midiático, de atuação na vida pública e artístico – com o objetivo de trabalhar com consistência a autonomia dos alunos e a sua capacidade de se manifestar oralmente e por escrito com coesão e responsabilidade.
Se no campo de atuação na vida pública os alunos são convidados a discutir projetos de lei, elaborar conteúdos que questionem estatutos importantes para essa faixa etária e se debruçar sobre textos de políticas públicas, no jornalístico (campo bastante valorizado nessa etapa), eles são levados a analisar a relação entre informação e opinião, conhecer projetos editorias independentes e fazer uso de mídias diversificadas, como documentários e podcasts, a fim de vivenciarem a construção de discursos orais, audiovisuais e textuais com formatos diferenciados.

Ao professor, mais uma vez, cabe o desafio de costurar os eixos escrita, leitura, produção de texto, oralidade e análise linguística/semiótica de maneira que conversem um com outro, atraindo sempre a atenção do estudante e propondo-lhe desbravar conhecimentos que vão além das regras gramaticais ou de análise sintática.

Talvez, por isso, o emprego da literatura se faça como alternativa atraente para os jovens. Ler uma HQ de O velho e o mar, de Hemingway, ou Terra sonâmbula, de Mia Couto, pode ser pretexto para trabalhar com a sala a escrita de críticas, resenhas, roteiros para séries, diálogos para uma peça de teatro ou ainda um post para o Facebook ou o Instagram. Em um mundo cada vez mais tecnológico, pode ser um caminho interessante para formar profissionais conectados, sensíveis e responsáveis.

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